A verdade é que me acho muito pequena para tudo o que carrego no peito,
a verdade é que não cresci e que não amadureci ainda, talvez nem esteja em
tempo. Eu me desmancho inteira quando te sinto longe, me desmancho inteira
quando vejo seus planos correndo dos meus.
Foi quando eu tinha vinte anos, se é que você me entende. Foi talvez na
fase mais imatura da vida, onde você tem sua liberdade total, mas ainda não
sabe muito bem o que fazer com ela, quando seu corpo já está completamente formado,
mas seu interior está começando a se formar.
Eu tinha vinte anos e uma casa cheia de memórias que sequer faziam parte
da minha vida, eu vivia com você e com um fantasma, você nunca entendeu isso.
Me lembro bem no dia que sai da casa da minha mãe, eu levei algumas caixas, poucos
móveis e uma bicicleta. Nada mais. Chegando na sua casa, que agora era nossa, desencaixotamos
minhas coisas. No fundo, eu ainda tenho a sensação de que uma caixa daquelas
continua intacta, sequer a fita adesiva foi removida. Nessa caixa estavam
planos grandes, como me casar de papel passado, ter seu nome, ter um filho, ter
um gato nosso, usar uma aliança, uma lua de mel...
Por isso que hoje me dói tanto, por isso que até hoje me sinto pequena
demais. Será que não sou eu quem você quer fazer feliz? Será que você não quer
deixar eu usar seu nome? O que falta em mim?
Você sempre considerou meus pedidos bobos, mas eles cresceram a partir
do momento que te conheci, cresciam a cada momento que eu senti sua mão suada e
seu coração palpitar forte. Eu não tenho culpa, você não pode me empurrar toda
essa culpa. Talvez com o tempo esses sonhos morram e você fique tranquilo.
Talvez quando eu voltar a pensar nisso tudo, não doa tanto e eu aceite a
condição de não ser a sua mulher.
O que eu preciso fazer? O que mais preciso para nossos planos se
encontrarem? Me diz, por favor, que eu vou correndo buscar. Se eu te amo e isso
é demais, só me diz.
A verdade é que até hoje eu não aceito o fato de ser tão pequena aos
seus olhos. Até hoje não aceito o fato de meus sonhos serem demais.
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