terça-feira, 7 de abril de 2015

Só uma história de amor.

Eu me amei, eu me amei muito antes de te amar. Eu dancei, eu me achei linda, eu sorri, eu até chorei muitas vezes, confesso, mas até mesmo no sofrimento eu me amei. Quando te conheci, fui aos poucos dedicando cada pedacinho de mim a te fazer feliz, te dei amor, te dei carinho, cuidei de você inúmeras vezes, te proporcionei vistas de pores do sol que te garanto, você nunca verá igual. Eu fui durante horas, dias, noites, semanas, meses, anos, o motivo que fazia você sorrir, eu fui você, te preenchi de mim e por consequência, me preenchi de você. Foi tudo muito natural, aconteceu sorrateiramente essa impregnação em mim, tomou meu corpo, minha pele, meus poros, meu sangue, minhas tripas... me transbordei de você e a cada gota sua quis mais. Amei e foi quando cai, percebi estar tão repleta de você que não consegui me achar, todos os pedacinhos que me doei a você, caíram. Você não suportou o peso da troca e acabou me perdendo de nós. Eu estou tentando achar esses pedacinhos de mim, estou sozinha nesse quarto escuro, tentando me encontrar, tentando achar meus pedaços, ainda me lembrando de quando eu tentava encontrar seus pés debaixo das cobertas, mas dessa vez quando me encontro não tenho a sensação boa, como era tocar sua pele. Quando encontro mais um pedaço meu, sofro com a visão de mim mesma, eu sendo somente eu, aprendendo a me ver sem nós. Aprendendo a ser eu sem você, aprendendo a me amar, como me amava antes de você chegar.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Cabide

Quero nossas roupas dobradas, guardadas no mesmo guarda roupa, com aquele cheiro que é característico nosso, da nossa casa, dos nossos corpos juntos. Quero nossas roupas com cheiro de naftalina e aquele cheiro característico de gente velha, tudo isso misturado com o ar do campo, da lenha queimando no fogão a lenha que vai fumegar o inverno todo. Vou passar suas camisas e vou me dedicar a construir um cabideiro só para guardar suas infinitas boinas, desde a primeira, já que eu tenho certeza que você nunca vai se desfazer de nenhuma. No verão vou fazer limonada, te chamar para sentar na varanda e te perguntar se isso não vai ter fim, se nunca vou deixar de te amar dessa maneira colossal. Quando anoitecer vou te ler algum conto de algum dos nossos autores favoritos e no fim dizer: é bom pra caralho, né? Só não é melhor que fondue! Aos domingos, vamos para a cidade logo de manhãzinha, nunca vamos abandonar o hábito de ir à feirinha, comermos nosso pastel com caldo de cana e sentarmos na grama. Em todos os cafés da tarde, vamos comer pão e bolo, vou fazer tudo com dedicação e carinho, servir seu prato e esperar você dar a primeira mordida para eu começar a comer também. Nos dias de chuva de verão, vou te chamar para tomar banho de chuva comigo, você vai... com seu passo lento e eu nem vou me importar se quando você conseguir sair da cobertura da varanda já tiver parado de chover, qualquer coisa a gente pega a mangueira. Eu vou ter paciência, eu vou beijar seu ombro, eu vou segurar suas mãos fracas, eu vou cuidar de você, vou te tirar do sério várias vezes, mas vou cuidar de você.