segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Eu te amei desde que os meus olhos de mel invadiram o teu espaço.

No momento em que te conheci, na tua sala 2x2, de janela selada e restrita, travei uma batalha contra a solidão e a morte, pernoitei jogando pôquer com elas e o trato era: Se eu perdesse, não voltaria nem em pensamento, mas caso contrário, as duas teriam de bater em retirada sem nem ao menos olhar para trás. No fim, eu ganhei.
Mas a batalha não terminou por ai, lutei diariamente. Acendi a luz e com um pano feito da minha própria pele, tirei o pó do seu corpo inteiro enquanto você lutava contra a minha presença, me expulsou diversas vezes, mas eu não me rendi, lutei por você e prometi te guiar por toda a vida.
Não foi fácil, chorei por diversas vezes, mas persisti com o peito latejando e com as forças se extinguindo, permaneci com a bandeira do amor em punho, pois sabia que somente assim me sentiria viva.
Passei dias e noites esvaziando gavetas, retirando o pó, pintando as paredes, mudando o lugar dos móveis, trocando as cortinas... Isso tudo me machucou, me feriu, meus dedos sangraram, meus olhos relutaram, inalei poeira, me sujei inteira... doeu. Mas consegui te tirar da penumbra, te aquecer com o sol que estrategicamente fiz entrar na sala, fiz você respirar o ar puro...
Eu cheguei sabendo o que eu queria, sabendo que te queria, independente do que quer que você fosse. Te tirei de uma prateleira empoeirada. E assim, página por página, lendo e relendo, me machucando nas histórias, em um esforço descomunal a cada dia, rasguei uma página de você e no verso da mesma folha tentei reescrever nossa história. Tentei.
Quando tudo estava pronto e reordenado, quando suas forças estavam no máximo, você decidiu então continuar a história sozinho, em um livro com apenas um autor e um personagem. Dessa vez eu não tive escolhas, não pude permanecer, mas não por cansaço meu e sim por escolha tua. Te tirei de uma prateleira empoeirada para você seguir seu caminho e me deixar cuidando da sua sala 2x2, que já está empoeirada, na penumbra e recebendo constantes visitas da solidão e da morte.