quarta-feira, 29 de agosto de 2012


Não vou saber dizer o que há...
Não vou poder jamais explicar
os dias em que pensei ter
respostas para tudo
fingindo ser forte e negar
que eu nem sei se eu quero saber
se amanhã vai ser igual (ou não)...
Porque me assusta tanto
não ter histórias pra te ouvir contar.
Quão mais tentei saber e falar
mais tropecei em minha língua.
Esperas que eu seja forte
atrás deste escudo
que nunca me deixou enxergar

que eu nem sei se eu quero saber
se amanhã vai ser igual (ou não)...
Porque me assusta tanto
não ter ninguém pra poder abraçar.
Teorias de viver
não me deixaram rumos
e agora eu estou parado.
As pessoas vão e vem
e é tudo tão confuso...
eu só queria voltar pra casa.
Mas agora nem mesmo você
está aqui pra me explicar.
Eu juro, eu tentei correr,
mas acho que foi tarde demais.

Agora quem vai se importar?
Meus dois braços não vão bastar
e ninguém vai me ajudar
a tirar as crianças do campo...

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Lembrei de você, juro que foi sem querer.

Eu prefiro não pensar o motivo de eu sempre voltar, eu sempre volto. Eu não quero entender o motivo do seu cheiro ser tão intenso que invade meus pensamentos nas horas que eu mais quero distância, que eu mais preciso ficar longe.
Você se pega pensando em quem menos imagina, é uma carência que não tem nome, você só sabe da proporção do negócio. É grande.
Chegando em casa a primeira coisa que faz, inconscientemente, é pensar nele. Qual o motivo de não estarem juntos, agora? O que faz com que isso doa tanto, ao ponto de te deixar perturbada?
Qualquer anuncio publicitário, qualquer capa brega de revista, qualquer propaganda em rádio de velho, qualquer coisa faz pensar nele. Talvez seja complô, esses caras de marketing fazem isso para as menininhas serem submissas e românticas ao mesmo tempo, no fundo acaba dando certo.
Comprar bala faz você lembrar dele, aquela bala que ele sabe que você gosta.
Descer do ônibus faz você lembrar dele, aquele ponto que você ficaram parados esperando a chuva passar.
Acender o cigarro faz você lembrar dele, quando ele acendia o cigarro pra você, que cavalheiro.
Passar batom faz você lembrar dele, que raiva dava quando você se entupia de batom pra ele tirar tudo.
Tomar banho faz você lembrar dele, o vidro embaçado que você costuma escrever o nome dele.
Fazer as unhas faz você lembrar dele, a cor que ele pediu para você usar.
Andar na rua faz você lembrar dele, era impressionante o tamanho do seu passo comparado ao meu.
Escrever em um blog que ninguém visita faz você lembrar dele, será que esse ele lê?
Dormir faz você lembrar dele, os 15 minutos que antecedem o sono são os piores.
Chorar faz você lembrar dele, o gosto das lágrimas dele.
Pensar em outro faz você lembrar dele, você quer ele.
Acordar faz você lembrar dele, bater a mão ao lado do corpo e não sentir sua pele é tão terrível quanto os 15 minutos antecedentes do sono.
Beijar outro faz você lembrar dele, não encaixa, sabe?
Ouvir música faz você lembrar dele, até funk lembra, isso é macumba.
Se masturbar faz você lembrar dele, pensar em caras sarados nunca deu muito certo mesmo.
Abrir a geladeira faz você lembrar dele, você inevitavelmente pensa quando abre a geladeira, quando pensa, inevitavelmente é nele.
Ver filmes faz você lembrar dele, na hora do beijo, então. Você chora feito criança.
Aula de literatura faz você lembrar dele, porra, esse semestre podia ser outro gênero.
Cortar a mão faz você lembrar dele, a dor não chega nem aos pés.
Amputar o braço deve fazer você lembrar dele, deve ser uma dor comparavel.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

As vezes tu cai de cara no chão e sente o vazio da vida.
As vezes tu anda pela rua chutando as pedrinhas e levanta a cabeça, não deixa o cabelo cair na cara.
As vezes tu sofre e se (de)(re)compõe, as vezes não.
As vezes tu calcula tudo, quando chega na hora tu desiste, as vezes tu insiste.

Tem dias que você só quer um chocolate quente.
Tem dias que você só quer alguém.
Tem dias que você não quer nada, abraça tudo o que tem.

Por hora você pira, enche a cara.
Por hora você ama, quebra a cara.

Quando pensa demais na vida, esquece do agora.

Canção


    O peso do mundo
             é o amor.
    Sob o fardo
           da solidão,
    sob o fardo
          da insatisfação
     
           o peso
    o peso que carregamos
            é o amor.
     
    Quem poderia negá-lo?
              Em sonhos
    nos toca
          o corpo,
    em pensamentos
            constrói
    um milagre,
             na imaginação
    aflige-se
             até tornar-se
    humano -
     
    sai para fora do coração
             ardendo de pureza -
     
    pois o fardo da vida
              é o amor,
     
    mas nós carregamos o peso
               cansados
    e assim temos que descansar
    nos braços do amor
              finalmente
    temos que descansar nos braços
               do amor.
     
    Nenhum descanso
            sem amor,
    nenhum sono
            sem sonhos
    de amor -
               quer esteja eu louco ou frio,
    obcecado por anjos
               ou por máquinas,
    o último desejo
              é o amor
    - não pode ser amargo
             não pode ser negado
    não pode ser contigo
               quando negado:
     
    o peso é demasiado
              - deve dar-se
    sem nada de volta
             assim como o pensamento
    é dado
             na solidão
    em toda a excelência
             do seu excesso.
     
    Os corpos quentes
              brilham juntos
    na escuridão,
              a mão se move
    para o centro
            da carne,
    a pele treme
              na felicidade
    e a alma sobe
             feliz até o olho -
     
    sim, sim,
               é isso que
    eu queria,
              eu sempre quis,
    eu sempre quis
             voltar
    ao corpo
             em que nasci.

Por Allen Ginsberg

quinta-feira, 23 de agosto de 2012





O monitor acende o nome, os jornais tem a sua foto e os intelectuais romantizam sobre dias que nunca verão. Os comitês votaram outro protesto, os estudantes voltaram, o feriado acabou e seu corpo ficou esquecido ao chão.








terça-feira, 14 de agosto de 2012

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Nunca Conheci quem Tivesse Levado Porrada

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. 
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. 

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, 
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, 
Indesculpavelmente sujo, 
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, 
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, 
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, 
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, 
Que tenho sofrido enxovalhos e calado, 
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; 
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel, 
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, 
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, 
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado, 
Para fora da possiblidade do soco; 
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, 
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo. 

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo, 
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho, 
Nunca foi senão princípe - todos eles princípes - na vida... 

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana, 
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia; 
Quem contasse, não uma violência, mas uma cobardia! 
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. 
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? 
Ó princípes, meus irmãos, 

Arre, estou farto de semideuses! 
Onde há gente no mundo? 

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra? 

Poderão as mulheres não os terem amado, 
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca! 
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, 
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? 
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil, 
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. 

Álvaro de Campos, in "Poemas" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

domingo, 5 de agosto de 2012

O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

- Pablo Neruda.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Isso não é uma despedida.

Você não irá voltar aqui, não vai pular o muro para ver minha cara de susto, não vai correr pela cidade para me encontrar do outro lado, desistirá de sofrer por bobagens, viverá sem regras, viverá do seu modo, sem ter que suportar alguém dizendo o que tem ou não que fazer, o que deve ou não comprar, que roupa deve ou não vestir. Sem regras, sem tempo delimitado para fazer ou não o que querem que você faça. 
Eu não aguentei sofrer, você sabe, nós sabemos. Na verdade nós sabíamos que eu não teria força suficiente, eu nunca vivi algo tão intenso, eu tinha que entender, você deveria ao menos compreender. Eu sou assim, efusiva, quero tudo para ontem, espero que as pessoas se declarem da forma que eu faço, que demonstrem o mesmo nível que eu demonstro, que vivam e sintam com a mesma intensidade, mas eu sinto ao extremo, eu amo incondicionalmente, eu amo sem fronteiras, sabe? Para mim, eu penso na vida, cara... só temos uma vida, a possibilidade de se encontrar um amor de verdade é rara, para não dizer impossível, o que eu menos desejo nessas horas é ser obrigada a ficar longe de quem eu amo, aceitar que me tirem um amor tão puro. Eu posso me afastar, mas não aceito essa condição. Se for para amar, que seja para viver da mesma forma que eu sinto.
Eu sofro a cada segundo, em cada respiração, eu que não me imaginava viver sem, acabei tendo de me obrigar a suportar. Eu sinto falta e sei bem falta do que, eu tenho plena certeza que um faz parte do outro, saca? Como não sentir dor ao arrancar uma parte que mora em você, fez seu ninho, criou raiz e agora é levado para qualquer lugar longe.
Espero que possamos viver dias melhores, que a falta seja superada, que nem eu, muito menos você sofra por um tempo muito grande, que a gente ainda consiga passar pelo corredor sem ter aquela vontade de abraçar, sabe? E que vontade...
Eu, com toda sinceridade, só penso em olhar mais um vez bem no fundo dos teus olhos e dizer o quanto te amo, para que você nunca esqueça, para que tenha certeza, ou só para tentar fazer você sentir que eu tentei até onde pude, eu sou fraca, mas lutei. O meu amor por você fica, só quero que entenda isso, eu nunca tive tanta certeza do que sinto, nunca tinha entendido que para amar não basta estar junto, agora eu sei, só não esquece isso, tá? 

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Ninguém sabia e ninguém viu que eu estava a teu lado então.
Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher. Sou minha mãe e minha filha, minha irmã, minha menina.
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser.
Sou Deus, tua Deusa, meu amor.

Cheguei até aqui para ver você desistir. (Escolhendo um bom título, mas que não seja repetitivo).

Meu bem, podes juntar todo seu leque de conhecimentos literários, e todos aqueles amores modelo que existem por ai, pegue-os e os coloque em uma balança, para ver quanto pesa meu amor por ti. Na verdade, nem juntando tudo, nem pegando os maiores amores que já conheces, nem assim irá saber o peso do meu amor.
Some todos os amores que houveram em Macondo; junte com o amor que Dorian sentiu ao ver Sibyl Vane encenar; coloque junto a paixão ardente de Fiorentino e Firmina; o fascínio do proibido vivido por Winston e Júlia; e as obsessões de Bandini? Elas são poucas perto do tamanho; e acerca do afeto que sinto, lembre do amor filial que transpirava dos poros de Holden Caulfield quando falava de Phoebe, até esse fica pequeno.
Os autores de todos esses romances não conseguiriam entender nem uma vírgula do que eu sinto, nem um pequeno pedaço, vida. Eu digo mais, nem o Vampiro de Curitiba consegue sentir o fervor que eu sinto nas veias, isso mesmo, ele não faz ideia do que é desejar alguém, no sentido sexual ou não.
Nas luzes perdidas e no vazio da escuridão, a mulher do primeiro cego, quando viu o marido com a Rapariga dos óculos escuros, não fez nem ideia do que é saber o amor perdido de quem você ama de verdade, eu sei. Arrogante, mas sei.
Perto do que eu sinto, na verdade Carlos nem amava Dora que jamais amou Lia que pensava que amava Léa que tinha paixonite por Paulo que mal tinha admiração por Juca... Ninguém sente de verdade o que sinto.
Acha pouco ainda, certamente. Mas e se eu juntar Capitolina e Bentinho? Isso mesmo, vou colocar ali no meio Capitu e Bentinho, porque pra mim, não passou de brincadeira essa história, não querendo desmerecer nem nada, mas é que é pequeno! Muito pequeno!
Augusto e Carolina; Luísa e Basílio... e todos esses casais conhecidos são pouco.
Não da para dizer da imensidão, vida. Mas posso sentir. E jamais poderei descrever. Determinadamente oscilante, porém, cantando. Teu amor me deixa aqui cantando, existindo, por si só. Perto ou longe.