quarta-feira, 25 de abril de 2012

Funerais.


Não me cabe a clemência, a passividade à vida sem paixão. Nem que seja paixão pela queda. Nem que seja paixão pelo nada. O próprio Nietzsche morreu cedo. Ele e seu bigode muito feio. Nada disso me tira a vontade de assustar as pombas na calçada quando quase 6 as padarias abrem e eu passei a encarnar 24 horas tudo o que mais amo. 
"I will give you even my body, Spiritwalker". 
Foda-se. É, foda-se a boa postura, o bom caminho, a boa virtude. Eu sou o avesso de eu mesmo e meus olhos queimam em descrenças. Odeio a vizinhança. Odeio a cidade quando desperta. Penso Taxi Driver. Tem muito mais sujeira nas pessoas do que nas calçadas. As pessoas não deviam ter nojo das baratas, pelo menos elas são o que são. Já as baratas... O café abençoa as blasfêmias, "dusty" e nunca com o gosto que você quer que ele esteja. Maldito seja aqueleque inventou as escadas. 
(...)
Nunca tive vocação para bom menino politicamente correto. Nunca consegui escapar de estar envolvido em todo tipo de problema possível. Nunca consegui ter uma vida calma e sempre fiz merda. E, na real, demorou até pra entender que eu gosto de fazer merda. Porque, se você pensar direito, se todo mundo fizesse tudo certinho, nunca nada ia ter mudado na vida de ninguém. Admirável Mundo Novo. E, de boa, eu já me decepcionei o suficiente com as pessoas pra me importar com o que elas pensam ou não sobre o que sobra de minha vida. Já fui utópico e idealista o suficiente pra abastecer quarenta anos adiante.
 Agora me reservo o direito à descrença. É estranho pensar assim. Muita coisa perdeu o sentido pra mim. E essa perda não foi nada suave. Enfim... A gente cresce com a idéia de que tem que acreditar em alguma coisa mas não imagina que a maior certeza de nossas vidas é que essa coisa, qualquer que seja ela, vai ser arrancada da gente sem piedade. E é assim que a gente se torna adulto. Perdendo os sonhos. E só o que resta pra gente, nesse sentido, é o intervalo. Fora isso, seguir em frente causando o maior estrago possível.

Trecho do livro "Os funerais do coelho branco - Nenê Altro"



Interlúdio:



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