segunda-feira, 16 de janeiro de 2017



"-Eu sou a Alice, sempre fui a Alice". Foi o que te disse enquanto dávamos mais uma tragada no cigarro. Eu era Alice Ayres, aquela garota de cabelos coloridos e roupas estranhas, que sempre foi menor, trabalhando em uma cafeteria e quem sabe te esperando de uma viagem que você definitivamente não deveria ter feito, ou que deveria ter ficado menos e deixado de pensar um pouco em dinheiro. Eu sempre me senti muito Alice, sempre te pedi para cuidar dos meus machucados, achando que minha juventude te faria sempre querer ficar. Eu fui Alice quando larguei tudo para estar sempre ao seu lado, eu fui Alice quando tirei as cores do cabelo e me tornei a mulher que você exigia que eu fosse, fui Alice ao ter 20 anos e ter que te ver ir dormir com outra todos os dias, fui Alice quando você se gabava da idade das suas novas parceiras, fui Alice quando te implorava para ficar e grudava em você para que ficasse, fui Alice todas as vezes que fiquei chorando enquanto você saia por aquela porta como se eu fosse mais uma qualquer, fui Alice quando pedia para que terminasse de uma forma que não tirasse o valor do nosso amor, fui Alice até o momento que eu não consegui mais acreditar no que me falava: "- Me mostra! Cadê esse amor? Eu não o vejo. Não posso tocar nele. Eu não sinto. Eu te ouço, escuto umas palavras... mas não posso fazer nada com suas palavras vazias."
Eu fui Alice até o momento que percebi que na verdade eu era muito mais Jane Jones que Alice.


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