Não fizeram planos. Talvez um voltasse, talvez o outro
fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas,
telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex, que ambos eram
meio bruxos, meio ciganos, assim meio babalaôs. Talvez ficassem curados, ao
mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse
peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui
pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro,
ou viajassem juntos para Paris, por exemplo, Praga, Pittsburg ou Creta. Talvez
um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala
perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada. Porque era cedo demais e nunca
tarde. Era recém no início da não-morte dos dois.
Depois de agosto - Caio Fernando Abreu
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