quarta-feira, 9 de julho de 2014

Não choro

A minha solidão não troveja, não relampeia, não grita e não chora.
Ela não se precipita.
A minha tristeza não se transforma em lágrimas, mesmo, por vezes, eu quase não suportando.
Ela não desaba.
Já me imaginei transbordando o mundo de prantos, sofrimento e desespero.
Não sucumbo.
Um imenso rio formado de puro desgosto e água podre e fétida que me rege.
Não mergulho.
Eu sinto o peso da vida em minha cabeça e em meu peito. Palavras ditas e não ditas. Malditas.
Não serei mártir.
Estou letárgica mas não cinza. Pintei meu mundo com guache, torcendo para não chover.
Não serei o medo.
Não sou coitada, abandonada em uma noite fria. Até porque é dentro de mim que faz frio, neva.
Aqui dentro névoa.
Que sumam, que apaguem, sejam esquecidos, que morram... que matem os meus sonhos.

Eu não choro! Não choro!

6 comentários:

  1. Você fez uma poesia intrigante, pois muitas pessoas usam do sofrimento, das lágrimas, logo do choro, para escrever. Tu fez justamente o contrário.
    Gosto de poesia pois esta admite milhares de interpretações, dependendo de quem lê, e o que senti é que o eu lírico é uma pessoa fria, que se abstém dos sentimentos ou das demonstrações de.
    Gostei, parabéns.

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    1. Carol, aquilo que me sufoca, me fere e me deixa com nó na garganta é o que sai em palavras. Não vivo em prantos justamente pelo fato de escrever o pranto.
      As dúbias interpretações é o que nos aproxima dos textos poéticos, a sua interpretação é aquilo que você enxerga no sofrimento alheio, se tornando parte de você.
      Que bom que gostou do que escrevi, significa que me aproximei de você.

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  2. ''Um imenso rio formado de puro desgosto e água podre e fétida que me rege.''
    ''Pintei meu mundo com guache, torcendo para não chover.''

    Que desesperador, que bonito!

    Gostei daqui, vou ficar.

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