terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Qualquer bobagem

As estantes tinham vãos estreitos para passarmos, estávamos perdido entre aquele montaréu de livros e traças, poeiras e letras. A cadência dos seus passos me fazia acreditar que eu estava no lugar certo, como diz naquele filme clichê que gente cult adora: "Eu estava exatamente onde queria estar". Circulamos dentro daquele lugar por umas duas hora, mas eu não fiquei cansada, estava contente, minhas pernas seguiam sem que eu precisasse fazer qualquer força, eu olhava suas pernas e a marca de nascença que você tinha na altura do joelho, uma marca em formato de coelho. Quando você achou o que tanto procurava, resolveu sentar em um lugar disposto com cadeiras confortáveis e tapetes, você ficou na cadeira, eu sentei no chão, sem nada nas mão, fiquei até com vergonha de não ter escolhido nada, mas queria apenas ficar ali, te observando, dedicando meu olhar para você, me concentrando em ler cada centímetro teu, cada curva que teu rosto formava. Garanto, prefiro seu rosto do que qualquer literatura, prefiro seu olhar do que qualquer descrição minuciosa que Garcia Marquez faça. Enquanto você viajava, eu entrava em um paraíso também, um estado total de nirvana. Eu preferia ficar ali no silêncio do que acabar falando qualquer bobagem.
De súbito você resolveu levantar, tomei um choque, vi suas pernas e era como se eu não pudesse falar ou te tocar, sumiu tudo. Mas sabia que todas as tardes você voltava, sentava no mesmo lugar, depois de ficar horas me fazendo te seguir entre as letras e traças.

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