terça-feira, 1 de novembro de 2011

29 de Julho.

A cortina transpassava o sol em um tom meio azulado, vez ou outra encontrava perdido um raio de luz do dia, eu me aconchegava, sentada na cama com o travesseiro erguido segurando minha coluna para que tudo fosse perfeito e que os monstros da literatura me acompanhassem por horas a fio. Abria meu livro e em instantes lembrava da última linha que havia lido, de uma hora para a outra já estava em um universo paralelo, sem pensar em mais nada, exceto quando a Jhully - minha gata mais velha - se mexia no meio dos cobertores e deixava meu pé sentir a friaca de julho.
De repente, meu coração começara a bater forte, tinha a sensação de que iria sair pela boca, descobri então, o que era o clímax do livro, a hora em que Arturo Bandini batera em Camila, que Holden Calfield visitara seu irmão no cemitério, que Winston Smith desobedecera a policia do pensamento e que os porcos de George Orwell tomaram o poder. I-N-D-E-S-C-R-I-T-Í-V-E-L!
Me acalmei, voltei ao estado normal, percebi que o suor já estava percorrendo minha face por completo, as cobertas já estavam no chão, senti o cheiro do bolo que minha mãe assava na cozinha, era o cheiro que só o bolo da minha mãe tinha, percebi que estava viva, que era matéria, que o mundo era real, acordei do estado literário, voltei. Era só um dia comum, 29 de Julho de 1984.

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