segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O mundo particular de uma criança, conto 4.

Ah... o natal. O natal começava a me enganar já em novembro, eu espera ansiosamente pela neve, queria que o telhado da casa ficasse branco igual no filme "Esqueceram de mim", queria mais ainda é que os vidros ficassem embaçados pra eu poder descongelar ele com uma bafejada e uma esfregada de luva, mas isso nunca acontecia, o que me deixava mais furiosa era que acontecia o oposto, como eu morava no norte do Paraná, o calor era intenso, parecia que eu já estava pagando pelos meus pegados antes de chegar no inferno. Essa não era a unica ilusão... Pra piorar tinha a parte de eu ter nascido em uma família pobre e sem religião, porque quando você tem religião a sua familia comemora feliz o nascimento do menino Jesus e teoricamente esquece do lado materialista, eu sempre fui muito materialista, não sei se foi mesmo por falta de religião, mas de qualquer maneira... Ficava frustrada com os embrulhos que minha mãe fazia, ela colocava os presentes em umas 10 caixas só para fazer volume, como se o embrulho fosse mais importante que o presente em si, ou como se eu achasse o presente mais caro só pelas caixas. Lembro que uma vez ela me deu um daqueles brinquedos de corda, que você tem que pescar os peixes com uma varinha que tem um ímã na ponta, os peixes ficam todos abrindo e fechando a boca só pra dificultar sua pescaria, é um presente bem sem graça, mas eu adorei, achei a coisa mais legal do mundo, ficava horas pescando os peixes e me fez até esquecer da neve e dos embrulhos.
Teve um natal que eu fui passar na casa dos parentes da minha prima, era uma familia rica, mas eu não conhecia ninguém, só lembro que eu não entendia porque eles colocavam uva passa e maça na farofa, sendo que doce não se come com salgado. Foi uma festa de gente com religião, mas eram mais consumistas do que a minha familia, ganhei cinco presentes (isso que eu nem conhecia ninguém) eles, diferente da minha mãe, colocavam o embrulho de qualquer jeito e jogavam os presentes de baixo de um pinheirinho plantado em um balde, depois da meia noite a criançada ia correndo olhar as etiquetas e os nomes para ver qual era de quem, lembro que eu ganhei uma boneca e um radio com microfone que tinha a foto da xuxa, até que eu gostei, mas a prima da minha prima fez questão de quebrar eu fiquei com tanto ódio que dei dois socos no braço mirrado dela e segurei os dedos dela com toda a força, ameacei que se ela chorasse ou contasse que bati nela ia cobrar o brinquedo dela, a menina ficou de bico calado e com um vergão no braço.
Hoje em dia eu não comemoro mais natal, ainda bem. Acho que peguei trauma.

Um comentário:

  1. Hoje em dia eu não comemora natal, aniversário e virada de ano que ocorre no intervalo de uma semana. Sempre sinto-me esquisito nesse período...

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