terça-feira, 9 de maio de 2017

Cada milímetro daquela linha que eu transpassava no pano era pedaços do meu sentimento, enquanto você borda o tecido, sua cabeça está livre para pensar em milhões de coisas e você só precisa aprender a lidar com o que vem na sua cabeça, afinal, hora ou outra você vai pensar naquilo e adiar pensamentos é como se você fosse jogando eles em um quartinho escuro onde precisa entrar vez ou outra para procurar algo que está perdido, se o quartinho não está com a organização em dia, ao abrir a porta, tudo cai em cima de você... além do que colocou lá, ainda tem a sujeira e o bolor do tempo que passou, te cobre, te esmaga.
Enquanto bordava, me lembrava do vestido que usava no dia que precisei ir ao hospital, lembro que naquele momento pensei que nunca mais iria voltar a usar os vestidos do meu armário e que talvez fossem eles que estivessem me dando má sorte na vida. Esses pensamentos me lembraram que ao comprar vestidos novos, preciso escolher menos roupas de tom azul, azul sempre foi minha cor favorita e eu acabava abrindo o guarda roupa e enxergando só peças azuis.
Eu sempre gostei de azul e talvez isso também tenha alguma explicação, azul é a cor mais triste e simbólica de todas, Van Gogh era um tanto quanto azul, Virgem Maria usava um manto azul, na Moça com Brinco de Pérola quase não notamos o brinco e sim os tons azulados que compões a quase perfeição... quase perfeição. O que seria a quase perfe... Furei o dedo.
O vermelho conversa com o azul e o sangue que sai do meu dedo é o mesmo que sangra dos meus pulsos. Posso me furar e manchar todo o tecido, isso não é punição o suficiente para o que eu fiz quando resolvi trocar todos os vestidos do armário.

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