terça-feira, 19 de julho de 2016

Ele adorava iogurte de ameixa e eu lembro disso desde a primeira vez que fui na sua casa, ele tomava o iogurte assistindo qualquer baboseira que passava na TV e eu admirava a concentração com que ele fazia aquilo. Todos seus movimentos eu sempre admirei e poderia ficar horas observando o que ele estava fazendo, tudo me encantava como se fosse mágica. Se estava consertando o chuveiro, se estava cozinhando, quando estava parado segurando um livro em uma mão e um cigarro em outra, quando parava na janela com as mãos apoiadas no batente. Eu me encantava com os movimentos, meu coração palpitava tão forte.
Eu pedia sempre que podia para ele ficar comigo para sempre, eu ficava entusiasmada com a possibilidade de me encontrar velhinha admirando seus movimentos sempre tão lindos, eu queria ver ele velhinho, lendo Cortázar ao chiado da panela de pressão cozinhando pinhão nas nossas noites de inverno com vinho.
Passou o tempo e ele decidiu não ficar comigo para sempre, senti uma dor que me parecia não haver maior, chorava a qualquer momento e evitava conversar com as pessoas, pois o pranto não avisava quando vinha. Passei a odiar Cortázar e pinhão, ficou só o vinho. Em um domingo, chorei o dia todo, ao ponto do vizinho vir bater na porta e perguntar se eu estava bem. Comecei aos poucos a sair de casa, posso dizer que conheço todos os bares da Trajano Reis, Vicente Machado e das proximidades da Reitoria. Já acordei em várias camas, com vários cheiros, diferentes formatos, umas o lençol era de algodão e outras de seda, mas nenhuma me encantava.
O tempo foi passando e algumas coisas foram mudando, a dor decidiu ir embora um dia, colocou a mochilinha targus nas costas, subiu no primeiro Santa Quitéria que viu e foi embora descendo as ladeirinhas do Campo Comprido. Sim, minha dor se parece muito com ele.
Ainda sinto e isso não me dói, o que fiz foi amar e é melhor deixar partir do que insistir pelo desastre. Ainda me lembro dele e cito seu nome tantas vezes que parece que foi ontem que foi embora. Me acostumei com o fato de ter mudado e de ter que ficar enquanto ele embarcava naquele ônibus.
Quando eu pedia para ele ficar para sempre, ele sempre prometeu que ficaria e hoje eu acho que o nosso "para sempre" leva tempo diferente para acabar.

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