quinta-feira, 24 de maio de 2012

Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira.

"Disse que comia as comidas guardadas em nossas imensas geladeiras, dirigia nossos carros de oito cilindros, tomava sem hesitação nossos remédios quando ficava doente e confiava no Exército norte-americano para proteger seus pais e irmãos da Alemanha de Hitler. E, no entanto, nada, nem uma única linha, em seus poemas refletia essas realidades."

Aos críticos literários de fundo de quintal que costumam tratar J.D. Salinger como um escritor "infantil", receba meus mais sinceros votos de "se fodam". Salinger trazia para seus personagens um misto de marginalidade e ingenuidade, mostrando neles o contragosto para com a sociedade, mas isso seria a coisa mais clichê do mundo se não fosse dado um toque infantil AOS PERSONAGENS. Mas sua obras são tão envolventes, que os tais críticos acabam esquecendo que aquele ali não é o Salinger (mesmo sendo todos um bocado a cara dele, sendo seu alterego no caso de Buddy ou coisa que valha).

Hoje quero mostrar, acima de qualquer coisa, o que eu estou passando nessas últimas semana, desde que eu começei a ler mais um livro de J.D Salinger. Eu não consigo entender, mas nenhum outro autor consegue me deixar com o coração batendo tão rápido como ele, parece que você entra em um transe. O modo que ele trata as coisas da vida tem uma cadência tão grande que chega uma hora e você esquece que tem algo fora do livro, esses dias mesmo eu achava que era a Boo Boo (personagem que é uma das irmãs de Buddy), só faltou eu entra pra marinha e ter um irmão poeta e pirado, de qualquer forma, eu nem mesmo consigo explicar o que acontece, mas é uma transmição de energia tão grande que o autor passa através de suas obras que as vezes eu acho que esse negócio deve ser magia negra.

“Aí, de repente, começou a acontecer um negócio um bocado fantasmagórico. Cada vez que eu chegava ao fim de um quarteirão e descia o meio-fio, tinha a sensação de que nunca chegaria ao outro lado da rua. Pensava que ia caindo, caindo, caindo, e nunca mais ninguém ia me ver. Puxa, fiquei apavorado pra burro. Ninguém imagina o medão que me deu. Comecei a suar como um filho da mãe, molhei toda a camisa, a roupa de baixo, tudo. Aí comecei a fazer outro troço: cada vez que chegava ao fim do quarteirão, fazia de conta que estava falando com meu irmão Allie. Dizia pra ele ‘Allie, não me deixa desaparecer. Allie, não me deixa desaparecer. Por favor, Allie’. Aí então, quando chegava do outro lado da rua sem desaparecer, eu agradecia a ele”.

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