sexta-feira, 2 de dezembro de 2011


Estava mais uma vez lá, parada esperando que algum milagre divino acontecesse, não sei por que, mas sempre volto ao mesmo lugar. Dessa vez estava tudo diferente, estava segurando uma garrafa de Whisky em uma mão e na outra um cigarro desses do Paraguay que nem advertência do governo tem, e olha que eu nunca fui de fumar, mas é que a dúvida, o medo e o amor me consumiam a ponto de eu ser obrigada a fumar.
Eu sabia que você não ia aparecer, mas eu esperava, chovia forte e tudo o que eu enxergava era umas mechas de cabelo caindo por cima dos olhos e uma praça vazia, só eu.
No fundo não queria te ver, sei que se te encontrasse seria difícil olhar em seus olhos, não queria que me visse mais uma vez assim, desse jeito, jogada. Da sua boca, conseguia prever tudo o que sairia, falaria do meu cabelo sem lavar, das minhas roupas, unhas e sapatos, diria que o álcool me consumiu e que não sou mais a mesma pessoa e que por esse motivo, apenas por isso, não iria mais voltar atrás, como se não soubesse que sou o que sou por sua culpa, querendo ou não, a culpa é toda sua, afinal, quando te pedi pra ficar, você não me ouviu e me deixou.
Agora estou aqui, sou obrigada a ouvir tudo o que já sei, sou obrigada a deixar tudo de lado, mais uma vez.

Caminhei um pouco por entre as árvores, agora a chuva já era mais fraca, mas de qualquer forma chovia forte dentro de mim, minha alma estava suja dessa chuva ácida. Mais a frente avistei alguém, como sabes, meu problema de miopia anda agravando, acho que é a idade ou coisa que valha. Andei lentamente para o ser que estava ali parado, não conseguia me mexer muito rápido, além de meus sapatos estarem uns três quilos mais pesados de lama, meu corpo parecia se diluir a cada passo que dava. Quando finalmente cheguei, senti o cheiro de flores e velas, que sempre sinto e isso não é brincadeira. Senti que ia cair, mas como sempre, me agarrei ao fio invisível que a vida me lança, todas as minhas forças se foram quando soltei a palavra que estava entalada na garganta fazia tempo, juro que tudo o que queria dizer saiu como um berro sussurrado, a força era de um grito, o tom era de uma voz velha e fraca e todas as palavras dançaram no ar como se fosse um circo de terror, limpa e tenebrosa: P.A.I!

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