sexta-feira, 26 de março de 2010

Vermelho


Antes de começar o texto, tenho que dizer que ele é furtado, estava lendo as coisinhas que meu irmão escreve e achei isso, gostei. Ele nunca vai ver que eu postei seu texto, eu não vou avisar.


Era um daqueles metropolitanos amarelos e estava meio vazio. Entrou de cabeça baixa, pagou a passagem e percebeu uns poucos bancos livres, não era um horário de pico, mas não esperava lugares disponíveis, se segurou em um apoio qualquer e passou os olhos pelos lugares vagos, e reparou lá no fundo um assento duplo com apenas um dos bancos ocupado, e quem o ocupava era justamente aquela menina do top vermelho. Sentiu um certo frio na espinha e a crônica indecisão que sempre o perseguia, caminhou acompanhando o balançar do ônibus, passou por um casal, por uma velhinha com sacolas, duas ou três crianças e mais o tipo comum de gente que se vê nos ônibus por aí, trabalhadores, alunos, e por aí vai.

A menina do top vermelho hoje não vestia top vermelho, estava com uma blusa preta simples, tinha entrado no ônibus no terminal, e já estava com uns 15 minutos de viagem quando um cara comum sentou no banco até então vazio ao seu lado, não reparou nele, nem quando ele entrou no ônibus e nem quando veio em sua direção com o olhar fixo e tenso, estava absorta, olhava pra fora pensando em nada, ou em tudo ao mesmo tempo, não reparava nem nas pessoinhas passando com suas preocupações pelas calçadas.

O cara comum seguiu pelo corredor do ônibus até o assento vazio, estava tenso, talvez até tremendo um pouco devido ao nervosismo, sentou apreensivo, ela nem olhou pra ele. Tentou se acalmar, procurou palavras, respirou fundo.

Aquele top vermelho a deixava ainda mais linda, naquela multidão de pessoas era só nela que ele reparava, olhava para os lados pra tentar disfarçar o nervosismo e parecia ainda mais nervoso, tomava um gole do vinho que um amigo oferecia, esperava uma oportunidade, que a deixassem sozinha, sorria com o canto da boca, cumprimentava um ou outro conhecido, mas assim as horas foram passando, ela acabou sumindo do campo de visão, e ele se sentia incompetente e fraco demais para fazer qualquer coisa quanto a isso.

- Eu... Eu... Vi você ontem.

- Ahn?

- Na festa.

- Ah, interessante.

- É.

E por um momento o silêncio impregnou o ar barulhento da metrópole.

Foi à festa com um top vermelho que gostava de usar, chegou com algumas amigas que tinham de fato um ou outro motivo pra estar lá, se divertiu, conversou com um monte de gente, bebeu um gole do vinho que um amigo ofereceu, um domingo como tantos outros, até que foram embora.

- Sabe, eu não sou muito bom nisso, então vou direto ao ponto: acho que estou apaixonado por você.

- Ahn?!? – Assustada, naturalmente.

- É sério, fiquei te olhando ontem na festa, com aquele top vermelho...

- Nem sei o que te dizer!

- Olha, o que você está indo fazer agora?

- Vou trabalhar.

- E não tem como você matar serviço e vir comigo?

- Até tem, mas...

- Então vamos!

- Aonde você vai?

- Sei lá, cinema, shopping, sorvete, qualquer coisa se você estiver junto!

- Isso é tão... Esquisito... Você não vai desistir mesmo né?

- E você desistiria de tentar convencer deus de que você merece entrar no paraíso?

- Uau!

Desceram alguns minutos depois, já quase no ponto final do ônibus, ele ainda disse mais algumas coisas bonitas de se ouvir, ela segurou na mão dele na hora de levantar do banco, ele apertou a mão dela com carinho, ela passou por uma conhecida no corredor e disse ‘oi’, ele apertou o botão de solicitar parada, ela desceu os degraus sorrindo, ele reparou que o ônibus estava meio cheio.

Alternate Ending:

Desceram alguns minutos depois, já quase no ponto final do ônibus, ele ainda disse mais algumas coisas bonitas de se ouvir, ela segurou na mão dele na hora de levantar do banco, ele apertou a mão dela com carinho, ela passou por uma conhecida no corredor e disse ‘oi’, ele apertou o botão de solicitar parada, ela desceu os degraus sorrindo, ele reparou que o ônibus estava meio cheio, ela olhou para os dois lados antes de atravessar a rua, ele não olhou, vermelho.

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